sábado, 3 de março de 2012

O começo

Este blog foi criado para aqui dizermos das nossas experiências com mamãe, que está com alzheimer. Nós ainda estamos tateando e aprendendo com mamãe e sua doença como lidar com isso, que para nós é tudo muito novo e surpreendente. É doído ver uma pessoa como dona Bibia, que sempre esteve à frente da sua vida e ainda ajudando outras pessoas a tomarem suas rédeas, falando coisas irreais, perguntando onde está em lugares que estava acostumada a frequentar, perguntando sobre pessoas que já morreram há anos, perguntar a nós, seus filhos, pelos seus filhos...
Criei este sítio pra que possamos colocar as coisas que estamos passando juntos, eu, Kath, Anninha e Nicolau. Indo a médicos, terapeutas ocupacionais e, por que não dizer, curtindo mais esta fase de quem nos gerou, criou e que agora, precisa da gente pra quase tudo...
É pra colocar nossas lágrimas que ela nem pode ver pra não saber que a gente está sofrendo muito com tudo isso...
Hoje mesmo, aqui em casa, ela perguntou diversas vezes se a mãe dela estava bem, pois ela nunca mais a viu.
Perguntou a mim por mim...
Declamou "A Árvore da serra", de Augusto dos Anjos e ainda disse que era muito amiga do poeta paraibano e que tinha até bilhetes dele pra ela, quando a ensinou a declamar...
Sinceramente, não sei o que dizê-la numa situação dessas...
Só sei que ela é minha mãe e que a amo muito por toda a nossa vida...
Lembro agora de quando abri meu "armário" pra ela, numa noite perto do seu aniversário, em novembro de 1980, quando eu estava iniciando minha vida de militante gay. Ela estava perto de fazer 48 anos.
Já havia algum tempo que ela havia me dito que tinha algo muito importante pra conversar comigo ( a gente ficou muito amigo desde 1971 - quando ela e papai se separaram!). Mas sempre adiávamos a conversa. Eu por minha parte, já imaginava o que poderia ser. E morria de medo de ser posto pra fora de casa, como acontece com muita gente.
Assim, fomos levando, até que uma noite eu resolvi por um basta nesse babado. Ela dormiu vendo TV e eu fiquei em casa (antes, toda vez eu esperava pelo seu cochilo e ia à farra, mas nessa noite, resolvi ficar.).
Quando ela acordou, disse: "Você não saiu hoje?". Eu respondi que não. Ela disse que a gente conversaria depois, porque ela estava com sono. Aí, eu disse: " Não, mamãe, a gente tem de conversar hoje, ou nunca vamos fazer isso."
pronto. Amanhecemos o dia conversando. Entre pedidos de perdão de parte a parte, nos perdoamos e a partir desse dia, conquistei mais duas militantes da luta a favor dos homossexuais: mamãe e tia Glaura.
No começo, ficavam como agora nós estamos: tateando, pisando em lama.
Também, depois desse dia, nunca mais faltou apoio dessas duas figuras.
Hoje, dona Bibia com alzheimer e tia Glaura, com parkinson!
Agora, tô chorando... depois eu continuo essa história!
Espero contar com a ajuda dos irmãos - só temos nós! - pra colocar aqui as nossas lembranças de vida, nossos desesperos, nossas alegrias, nossas conclusões...

2 comentários:

  1. Júnior, tenho muito orgulho de ter você como amigo desde a década de 80.
    Você tem sorte de ter sua mãe e sua tia como companheiras, lutando pela igualdade.
    Elas têm muita sorte de tê-lo como companheiro, lutando contra essas doenças que escarnam a vida, tanto delas quanto daqueles que as amam.
    bjussss

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